Cabelo em transição: relato de uma cacheada
- Mulheres 30 Demais
- 7 de mai. de 2018
- 5 min de leitura

A semana começa festiva por aqui, pois nesta quinta, dia 10 de maio, completo meus 34 anos. E com a nova etapa, chegam também novos desafios e algumas mudanças, entre elas, uma nova maneira de me olhar no espelho.

Desde que nasci meu cabelo sempre foi cacheado. No início, apenas nas pontas, mas aí eles foram dominando todo o espaço até me ver toda cacheada em minha fase adolescente e adulta. Mas o que via no espelho não era uma imagem que gostava, pois eu queria mesmo era ter cabelo liso, sem volume e com franja jogadinha de lado.
Hoje vivemos um 'boom' de produtos para cabelos cacheados, crespos, ondulados, com uma infinidade de opções. Mas nem sempre foi assim, pois na minha adolescência o máximo que você encontrava nas prateleiras era uma triste definição de produtos para cabelos cacheados (super genérico), liso e normais. Opa, normais? Sim! E minha pergunta sempre foi, porque não posso ter um cabelo normal também. Acho que este era o sonho e desafio, ter um cabelo normal, como a maioria, na minha concepção na época. Mal sabia o quão normal era meu cabelo!
Então, com o lindo avanço das tecnologias e pesquisas, começamos a ver mulheres que até então tinham cabelos cacheados ou crespos aparecerem todas lisas na televisão. Entre elas as jornalistas Fátima Bernardes e Glória Maria. Aí foi quando tive aquela esperança de ser jornalista como elas e com o cabelo liso como o delas.
Passado algum tempo, não faço ideia do quanto, e com o desejo mais latente de poder ter uma franja para chamar de minha, meus pais me presentearam com um tratamento chamado relaxamento de cachos. Foi a glória! Pois finalmente tive um cabelo que podia lavar e deixar secar naturalmente, sem volume, e com a franjinha lateral que esbanjava charme. Ele ficou ondulado e eu amava.
Com o passar do tempo fui apresentada à famosa escova progressiva. Aí sim passei a ter um cabelo lisérrimo, como sempre sonhei, com a franja lateral firme e forte. E assim se passaram 10 anos de visitas aos salões para retocar a progressiva, uma rotina praticamente diária de uso de chapinhas, que me acarretou em um calo no dedão de tanto segurar a bichinha, mas o coração transbordando alegria pelo meu cabelo lisão e que passou por várias etapas de cortes, do curto, ao médio e super longo, tanto que eu quase sentava em cima. Muita gente só me conhecia de cabelo liso e com o capricho que eu tinha em cuidar dele, parecia mesmo que havia nascido assim.

Aí vieram os 30 anos! E com esta nova idade e todo o significado e realidade que ela traz, também chegaram as novas descobertas, as autoaceitações e a vontade de mudar. Só demorou um pouco mais para chegar a coragem! Mas quando ela chegou, há exatos 8 meses e depois de ter sofrido assédio na empresa em que trabalhava e me ver obrigada a pedir demissão, hoje vivo um período de transição da cabeleira e na vida. Foi um período de descobertas sobre mim e de quem posso ser tanto com meu corpo e imagem como na vida profissional, basta dar o primeiro passo e continuar seguindo em frente. Sobre a transição do emprego e fase do empreendedorismo já contei aqui!
Mas a decisão em mudar muitas coisas em mim, externadas pela mudança do cabelo, trouxeram-me novos desafios também. Não é nada fácil deixar de ter um cabelo liso, há 10 anos, para começar a vê-lo meio ondulado, depois metade ondulado e raiz cacheada e volumosa, ter que abrir mão da franja, pois já não se adequa aos cachos, fica visivelmente estranho (novamente, na minha opinião!) e passar a ter que frequentar outras prateleiras de produtos para cabelo nas lojas de cosméticos. Acredito que este tenha sido um dos maiores desafios, pois para quem antes só tinha três opções de produtos para cabelos no passado, passou a ter um zilhão e somente para cabelos cacheados, isso sem falar nos demais tipos.

Hoje, à beira dos meus 34 anos, me vejo feliz, ainda com alguns altos e baixos na frente do espelho e quase totalmente cacheada novamente. Minha raiz cresceu bastante enquanto que o restante do cabelo e pontas ainda têm um resquício de química para alisamento. Cortar? Muitas vezes penso que seria a libertação total, pra deixar os cachos virem de vez, mas minha outra metade, ainda tímida, diz que não e entramos num consenso de que é melhor esperar até que a coragem fale mais alto novamente. A verdade é que gosto bastante de cabelo comprido também, apesar de já ter passado algumas fases com ele bem mais curtinho.
Então você deve estar se perguntando como tenho feito neste período de transição. Bom, confesso que tenho buscado muita informação pela internet mesmo, com umas garotas que estão à minha frente com seus cachos, com uma amiga mais que querida e lindamente cacheada, que já passou por esta fase de transição também, e com as vendedoras das lojas de cosméticos que me deixam fazer mil perguntas antes de conseguir decidir qual produto chamar de meu.
Não fui ainda a um especialista, pois sei que uma das primeiras frases será: "teremos que cortar". E para isso, como já expliquei, não me vejo 100% segura no momento. Por isso sigo levando minha fase de lavar, dividir, passar os produtinhos certos, fazer a fitagem, conseguir não ficar colocando a mão toda a hora no cabelo e me preparando diariamente para os comentários. Acho até que vale uma ressalva aqui para ajudar você que me lê e talvez esteja buscando coragem para enfrentar os temíveis comentários e opiniões alheias. Eles virão e de pessoas que você nem espera, como um "e esse cabelo?". Mas tente olhar para si, se amar como Deus a fez, lindamente cacheada, crespa, ondulada ou lisa, e seguir com seu objetivo de se sentir livre e segura com seu cabelo. E a minha resposta é sempre: "esse é o meu cabelo, essa sou eu!". Ou "this is me!", como aprendemos a cantar em The Greatest Showman, que sou apaixonada.

Para te ajudar ainda mais, a linha que estou mais adaptada no momento, por sugestão da minha amiga cacheada e empoderada, ao longo dos seus 21 aninhos (beijo, Gabi linda!), é a #todecacho da Salon Line. Lavo normalmente com o shampoo e condicionador e a cada 15 dias substituo o condicionador pela máscara com super óleos. Depois finalizo com gel da mesma linha e especificamente para cabelos em transição, como o meu.
Já são 34 anos de diversas versões minhas na frente do espelho e posso dizer seguramente que hoje, apesar de não ser ainda a imagem original, pois os cachos estão vindo aos poucos, com esforço e dedicação, esta é a versão mais segura de mim mesma e estou feliz com a mulher que estou me tornando. Que venham os próximos 30 e minhas próximas versões!

por Ana Paula Leal
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